Lembra daquela novela, que tinha o Jorge Tadeu?Pois é.Eu vi essa novela. Devia ser uma menininha.E eu não entendia mesmo qual era daquelas mulheres.Por que tanto afã em beijar um homem, que, aparentemente está...morto?
“Mãe,é isso mesmo,o moço morreu?”
“Pois é.”
Hummm.
Algum tempo depois,anos talvez,meses,quem sabe,eu mesma,não me lembro,saí pra fazer uma exploração no quintal.Estendendo-me aos quintais vizinhos,afinal,ser criança tem como prerrogativa invadir propriedade privada todo dia,e muitas delas,de preferência.
O quintal daquela velha senhora ficava bem atrás do meu,atrás de um velho galpão,caindo aos pedaços,que assombrava a minha casa.
Crescendo,provavelmente através de obra oriunda das mãos da vizinha idosa,embaixo,exatamente,da minha janela,um pé de copos-de leite.
Lembro-me de olhar pra eles,e pensar em como eram branquinhos e bonitos.E como aquele talo amarelinho era diferente,a tornava feia,mas nobre ao mesmo tempo,aquela flor.
E desviei minha atenção pra algum barulho,para os passarinhos cantando eufóricos na copa da árvore ao lado.
Até que me ocorreu que aquela flor era igualzinha a daquela novela. E me perguntei por que na minha casa,nascia de um arbusto,e na novela,de uma árvore.Logicamente que pensei que a consultoria da Globo devia ter errado em alguma coisa.
Cheguei pertinho do arbusto,furtivamente,como se a vizinha pudesse me pegar no flagra- e poderia-, e arranquei uma flor.
Fiquei uns longos minutos observando aquela flor,que,pra mim,era grande.
Passei meus dedinhos nela,procurando,invasiva,por pólen.E cheirei.
“Será que se eu morder,se eu comer,o Jorge Tadeu aparece na minha casa?”....”Mas que besteira!Aparece nada!”.E ri,sozinha.
E mordi.E mastiguei.
“Meu Deus,a que ponto cheguei!Eu como qualquer coisa que meu olho enxergar e achar bonito!”
E a flor ardeu na boca,eu a joguei fora,saí correndo,pra beber água.
E me julguei uma boba por um dia inteiro...
Infância....tão bom!
Ah,o Jorge Tadeu não apareceu não.Embora eu sempre diga que sim,quando me perguntam.Infelizmente,essa história se espalhou .
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