dezembro 18, 2011

De onde eu vim?

Certeza que não foi daqui.
Eu gosto daqui e aqui gosta de mim,
mas nosso gostar foi um aprendizado.
Foi um fardo pesado, piano arrastado
pelos quarteirões das minhas novas ruas
esse aprender a gostar daqui.
Mas aconteceu e agora aqui não sai de mim.

Eu saí de lá, mas lá não saiu de mim.
E eu espero que seja sempre assim.
Mas ainda pergunto,
ainda me perguntam
de onde eu vim?

Eu vim de um trecho de caminho
em que ninguém anda sozinho,
acompanhado de gente e de boizinhos,
comendo revirado em beira de estrada.

Eu vim de uma flor de macela
que brotou na beira dessa estrada
e lá hoje habitam sorrisos do passado
que tornaram-se fotografias irreconhecíveis.
De pessoas irreconhecíveis.

São os mesmos rostos, mas não os mesmos sorrisos...

Eu vim de uma flor de macieira enregelada,
velada por olhos tristes e caridosos
que ainda esperam por mim,
ansiando por um afago que antes me foi dado
e agora posso, devo e quero retribuir.

Eu vim da terra, que abriga meu umbigo.
E do meu umbigo brotou um mundo inteiro,
recheado de araucárias, onde ficam trepadas catorritas
que gritam, gritam, gritam o dia todo e no fim da tarde!
Anunciando que ainda tem gente pra chegar...

Eu sou de todo lugar.
Parece injusto então, permanecer noutro lugar
e neste lugar só.

Mas eu não escolhi vir de todo lugar
e sabe lá onde irei parar!

Rio de Janeiro, 15/12/11

Refletidos