março 24, 2010

testemunha ocular

Eu os vi, naquelas tardes de domingo, preguiçosamente jogados nos bancos da praça.
Eu os observei, temeroso, enquanto os dedos do rapaz roçavam calidamente as coxas dela, que desacortinavam-se daquela minissaia apertadinha. Suas pernas grossas espreguiçando a cada toque dos dedos queridos e os pézinhos que ritmavam alguma valsinha.
Eu vi os olhares de cumplicidade enquanto teciam sonhos vespertinos.
Eu via brotar de suas bocas artigos de decoração, estantes de livros, amparos para pratos, lençóis brancos trocados a cada três dias pelo excesso de uso.
Eu via um cachorro imaginário lhes rodeando e se coçando por falta de banho, e um gato tão preguiçoso quanto os donos a fofocar na janela, enquanto eles liam livros que lhes havia roubado a manhã na praia.
No chão, folhas e cadernos jogados às pressas, porque estudar é preciso, mas amar é maior do que isso.
Sempre se arranja tempo pra amar, e pra roçar os dedos entre as pernas dela sem que as crianças da praça vejam, sem que o cachorro peça atenção, sem que o gato mie, sem que o mestrado os enlouqueça...
Eu vi um caminho de liberdade e felicidade que saía das folhas de jornal que carregavam, naquelas tardes de domingo.
Hoje, que já trilharam esse caminho, já não os vejo mais nem a sua vida de imaginação.
Talvez, porque agora eles a vem.

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