novembro 27, 2010

Feriado

Hoje o pastel na feira está mais barato
porque a filha do pasteleiro se formou
e o pasteleiro, feliz, barateou o ganha-pão.
E o tomate e a galinha,
o preço deles também abaixou.

Hoje é véspera de feriado
e as mães cozinham em casa.
E os pais que ainda estão lá
assistem futebol.

Hoje não tem ninguém pra pagar.
Nem leiteiro, padeiro, peixeiro, motoqueiro,
e a gente refestela no sofá
enquanto os moleques soltam pipa na rua.

Hoje a gente não trabalha,
mal sai de casa.
No mais, só telefona 
pra saber se está tudo bem.

É que amanhã não se sabe como será.

Já avisou que amanhã não tem feira?
Que o mercado nem o banco abrem?
Que os moleques não saem pra soltar pipa,
nem pra estudar?

Amanhã tem visita no morro.
Quem nunca se importou
se os meninos vão à escola,
se as mães tem frango na mesa,
se os pais amanhã trabalham,
amanhã eles vem visitar.

Amanhã a gente não trabalha,
mal sai de casa.
No mais, só telefona 
pra saber se está tudo bem.

Amanhã os meninos não soltam pipa.

Amanhã tem visita no morro.

Rio de Janeiro, 27 de novembro de 2010. 05:48 AM.

7 comentários:

Débora Gauziski disse...

Adorei!

Blue disse...

Oi!

Pois li este belo poema e pensei em que se encontra a Cidade Maravilhosa. Parece que você escreveu pensando nela e nesta situação toda, de morros ocupados, pelos bandidos.

Sei, pode ser impressão minha, daqui de longe, quando se acompanha pela TV. Tem-se impressão de que tudo é uma guerra, quando na verdade, acredito eu, não é bem assim.

Beijos

Solange Maia disse...

o cotidiano lindamente retratado.

uau...

beijo carinhoso

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Concordo com Blue, este ótimo poema é alusão direta ao hoje e ao amanhã de uma situação que não é de ontem no nosso RJ. Alusão sensível e ao mesmo tempo denunciadora. Meu beijo e meu parabéns, Fernanda.

Ju disse...

Demais!
Adoro um feriado.
bjs

Xuxudrops disse...

Os meninos estão certos, o poema se trata de uma situação que reside no nosso passado e presente, e que vai precisar de muitos esforços da sociedade e do Estado para que não se torne um problema no futuro.
O poema é uma foto do descaso, da especulação eleitoreira, da acomodação, um excerto do todo que não só faz parte do Rio de Janeiro mas do país como um todo, apenas em proporções ainda menores em alguns lugares.
Todos precisamos ficar muito atentos com as visitas esporádicas e com a inércia dos feriados.

Flavih A. disse...

Quem não gosta de um feriado não é?

=)

Refletidos