junho 19, 2005

Cotidiano

Todo dia eu cuspo a pasta de dente.
Todo dia ela sai vermelha de sangue.
Todo dia é um sol bom.
Toda noite é uma estrela vazia.
Toda noite escrevo garranchos.

Toda noite faço a tentativa infame
De fazer algo bonito.
Sempre lembro de algo bom entre nós dois.
Faço listas sem razão ou base de experiência.
Sempre encontro razões pra minha carência.

Falta vitamina C pra minha gengivite.
Falta um não sei o quê entre a gente.
Falta eu ser mais menina.
Falta eu ser mais feminina.
Falta você ser maior,Tão pequeno você é...
Falta eu entender você melhor.
Falta você se conhecer melhor.

Eu quero dizer.
Foda-se!Eu disse.
Foda-se a técnica,a poesia ,a rima.
Foda-se o vocabulário , o abecedário e a tabuada.
Eu queria ser amada,
E agora que consegui,
Falta o quê mesmo?

Toda noite eu penso que acabou.
Mas todo dia algo novo começou.
A vida insiste em ser fases
De um casamento sem fim.
Não que eu queira o fim,
Mas acho que ele chegou,
E eu não vi.
Eu estava cantando,
E não ouvi a campainha tocar.

"I wanted you to stay ."

3 comentários:

Anônimo disse...

falta mais
ruído
na campainha
quando ela
toca baixinho
e a gente
não estrela.


beijo
Nel Meirelles
http://www.falapoetica.blogger.com.br
http://www.telescopio.blogger.com.br

melody disse...

Eu amei essa representação irônica de um cotidiano que nos sangra desde a gengiva até a alma, nas fases em que a vida insiste em
em sair da rotina. Amei, Fernanda.
Continue escrevendo garranchos que
se traduzem em poesias como essas.
bjs.

Luciane

Anônimo disse...

Você colocou poesia no cotidiano, expôs as feridas, a raiva, o medo. o amor. Lindo. Um beijo.

Refletidos